Para que venha o mundo novo, é preciso colocar para trabalhar a imaginação, a fantasia, a esperança, a utopia. O novo não virá, a menos que muitos e muitas o sonhem utopicamente, esforcem-se por configurá-lo como sonho e projeto, como esperança. Sonhar um outro mundo possível é um primeiro passo para fazer com que aconteça. Como será este outro mundo possível? Como deveria ser? Porque não começarmos a refletir sobre o que nos diz Fernando Pessoa, "Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir um castelo!"
Vivenciamos o mesmo sistema. Cada vez mais, num sentido verdadeiro, percebemos que estamos em um mesmo mundo, e que pertencemos a uma mesma Humanidade. Estamos em um momento privilegiado para assumir a responsabilidade pelo mundo e participar.
Isto posto é importante indagar, será que temos criado situações temporais e espaciais para pensar nessas questões na nossa vida cotidiana? Ou, se pensamos, será que já não nos rendemos à rotina, à fragmentação da sociedade moderna, ocidental, neocapitalista e globalizada, que nos impõe um ritmo frenético de trabalho, de falta de tempo, de ausência de carinho, de amorosidade, de desejos compartilhados... deixando-nos levar pelo isolamento, pelo individualismo, pela competição exacerbada, pela naturalização do que não deveria ser natural – por exemplo, o descaso com a coisa pública, a falta de ética e de estética, a falta de cuidado e de solidariedade para com o nosso próximo, até mesmo a falta de cuidado com a própria saúde, a falta de amizades ou, por outro lado e paradoxalmente, o excesso de cuidado com o corpo e as relações virtuais, cibernéticas e descartáveis?
Porque para mudar o mundo é preciso conhecê-lo. Um dos conceitos chave da obra de Paulo Freire é o da Leitura do Mundo. Simplificando, significa conhecer a realidade antes de nela intervir e transformar. E conhecendo nosso mundo, sabemos que é preciso reinventar a sociedade e o próprio homem. Mas podemos, depende de cada um de nós. Precisamos construir um ser humano capaz de se relacionar bem com as outras pessoas e com o mundo em que ele vive, de forma consciente, sustentável, crítica e sensível, valorizando e respeitando as diferenças culturais e cuidando para que os seus direitos comecem onde começam os direitos dos outros.